Além da luta: relatos de operários da Moraes S/A nos anos 1970 e 1980

Abstract

O presente trabalho analisa experiências de operários da MORAES S/A, fábrica parnaibana de sabão e cera de carnaúba, nos anos 1970 e 1980. Como fonte utilizamos à história oral e a análise de jornais e folhetos da época. Ao analisar a singularidade da industrialização nacional e a composição do capitalismo no Brasil. Buscamos mostrar que não houve uma autêntica revolução burguesa, gestante de uma oposição e polarização de classe como ocorrida na Europa, que a formação da classe operária com suas peculiaridades também ajudam a compreender as ações do operariado como diferentes das lutas de classe europeias. Pensando a experiência operária para além da militância e a história da classe operária longe da ideia de uma “essencialidade” militante e revolucionária, observamos os operários da Moraes dentro de uma lógica própria, no caso enfatizando suas raízes rurais, seu descrédito e/ou suspeita sobre a ação sindical e suas próprias redes de colaboração e ideias políticas como dispositivos inibidores de uma consciência de classe no sentido clássico (de Marx e Thompson) reverberando em ações radicais e greves, que a nossa análise podem ser vistas sob o prisma do pensamento social cristão pré-existente às suas experiências fabris. Apesar de os anos 1970-80 serem as décadas onde os operários irrompem na cena política e tem ação marcante na luta pela redemocratização nacional, sobretudo no ABC paulista, os operários de Parnaíba em estudo se mostravam simpáticos com o regime e o catolicismo e o lazer são caracteres marcantes de sua cultura, além do conservadorismo político-social já mencionado. Nosso estudo não visou falar por “toda a classe” da MORAES nesse período, apenas por uma fração da mesma, todavia pensando a memória como construção coletiva e as falas de nossos colaboradores como produto histórico fruto de um contexto social mais amplo, porém não totalizante.